Eis-me regressado de uma viagem de 4 dias por uma cidade a 2 horas de voo, mas a séculos de distância.
Enquanto estive fora, numa cidade completamente oposta aLisboa, em forma e em comportamento, fiz por reparar nas diferenças entre nós e eles, para tentar compreender o porquê de sermos assim.
As razões do presente estão no passado, pensei no facto e descobrique e as nossas se situam em três datas fatídicas, cujo seu efeito abalou o nosso destino para sempre: 1545 (Concílio de Trento); 1945 (Fim da II Guerra Mundial); 1975 (PREC).
A verdade é que vimos a perder o comboio do desenvolvimento desde o séc XVI, somos um país marcado por desgraças e por erros que nos mancharam o futuro.
Como disse tudo se iniciou naquela época de descobrimentos e de humanismo, ideias novas, renascimento, onde o protestantismo nascia pelo resto da Europa, liderado pelos países do Norte que se mostravam descontentes com os caminhos tomados pela Santa Sé. Nessa data fatídica de 1545 o Papa Paulo III, assustado com os rumos que a fé tomava decidiu convocar todos os cardeais do Mundo conhecido para instaurar uma espécie de Baillout, um plano para salvar uma empresa como Roma que se encaminhava a passos largos para a falência. E foi aí que a Europa se partiu em duas e nós infelizmente ficámos na pior metade.
Nascia assim a contra-reforma com todas as suas implicações, começavam os autos-de-fé, os julgamentos baseados na tortura e as confissões forçadas, tudo motivado por uma espécie de superioridade moral. Mas o que mais prejudicou Portugal nem foram essas demonstrações da barbárie humana mas sim o acto como todo o processo começava: pela simples denúncia não provada.
Isto incutiu a nossa pior qualidade no adn-social do país, o provincianismo levado ao extremo de Eça, a coscuvilhice das porteiras, os boatos actuais dos jovens.
(A falta de privacidade é hoje uma realidade, aliás algo com que nos habituámos a viver, não quero dizer que isto seja mau, simplesmente é, agora as suas implicações a nível económico e quanto ao nível de vida é que são desastrosas).
Depois veio a decadência nacional com a questão do ultimato, a vergonha de um país rebaixado perante o gigante inglês, mostrou muita da nossa génese e falta de garra. Nada disso viria a ser solucionado com Salazar, que indiscutivelmente, não teve um mau papel no pré e durante II Guerra Mundial, mas que não soube quando parar, deixando a oportunidade de 45' e a queda de muitos regimes autoritários, debaixo da hegemonia americana e da bandeira da liberdade, prendendo o país por mais 25 anos (+4 de Marcello) que em nada fizeram sentido.
Quando todo o Mundo girava em torno da III Revolução Industrial e percebia-mos que afinal o capitalismo era uma realidade e que 29' não tinha passado de um rebound (nada que nem de perto nem de longe apagasse aquele século e meio de Adam Smith.. aliás faz-me lembrar outra data) , Portugal perdeu mais uma vez a carruagem, (nem concretizando a sua primeira revolução quando o Mundo já navegava na terceira) e nos reduzimos à pior situação possível: viver a sós.
Pronto, lá veio aquela madrugada de 25 de Abril de 1974, Salgueiro Maia e a sua pandilha (sublinho que tenho a maior das considerações pelo capitão ao contrário do cabrão e assassino do Otelo), um dia lindo cheio de cravos no chão. Mas o pior estava para vir.
Este país é bipolar, tanto ama como odeia, tanto grita como se cala, e foi isso que aconteceu, voámos de um regime autoritário de direita para um domínio da esquerda marxista sob o comando de Moscovo vendo em nós e no seu menino bonito (o Álvaro) um país geograficamente estratégico para a continuação da carta de Varsóvia.
Aqui começou a festa: nacionalizações; manifestações dos padeiros, pedreiros, leiteiros, carteiros, cantoneiros, sapateiros, ferreiros e todos os eiros, ninguém trabalha, tudo caça capitalistas e fica a ideia de que tudo é de todos, (o Marx é que tinha razão e toda a riqueza não passa de sorte, roubo ou herança: de alguém que praticou as duas primeiras).
Veio a CEE, sem dúvida a nossa grande ajuda de hoje, mas pouco mudou, e em cada factor e relatório económico vimos sempre ajudados pelo carro-vassoura.
Agora já estou como o Presidente Mexicano, QUE MAIS NOS PODERIA ACONTECER?!
Ficou-nos a equação: tivemos a contra-reforma, tivemos uma monarquia cobarde que criou a relação mais estranha com as colónias (não as desenvolvendo, não fomentando o comércio não as explorando), uma ditadura de direita parva e sem sentido e um PREC nojento. Tudo isto foi igual a:
Provincianismo
Falta de respeito pelo factor trabalho
Enveja
Intervenção estatal na Economia
Proletarização da sociedade
Políticas fiscais injustas
Combate à riqueza
Agora, bem podemos chorar.
Nota:
Os portugueses têm de entender que só há uma solução na vida, o trabalho, o esforço, o valor acrescentado, a riqueza de cada indivíduo que nos levará a riqueza colectiva.
Tudo começa na produção, no que damos de nós a cada bem, passa pelo que recebemos dos outros mas também no que distribuímos ao bolo do estado (este irá ajudar quem mais precise).
Esse dinheiro que "nasce" e escorre pelas nossas mãos vai ser usado em bilhetes de teatro, livros, cinemas promovendo a cultura, mas também pagará os médicos que ajudarão os doentes, nunca deixaram um pobre sem emprego porque a sociedade de tudo produz e consome e aí os criminosos não terão necessidade de existir.
Esta é a fórmula da felicidade.
Ao contrário da esquerda radical, a riqueza não pode ser inventada, não se podem distribuir notas às pessoas como no Zimbabwe porque aí haverá inflação mas também não se tirará aos ricos como na URSS porque aí deixarão de haver ricos porque ninguém está para sustentar os outros.
Eu seria de esquerda se a actual esquerda fosse sinal de liberdade e justiça mas não é, a esquerda quer impor que os mais capazes sustentem os outros, quer impor que ninguém tenha a liberdade de ser rico porque existem pobres. Isto não é liberdade, é opressão e inveja de quem não consegue apanhar os outros e prefere ser como a mulher da história de Salomão (escolhe não ter filho porque a outra não terá).
O fascinante é que isto em Portugal prolifera e porquê? 1545, 1945 e 1975.
Apenas terminando, se eu pudesse um dia reportar-vos o video que tenho dentro da minha cabeça isso seria a conjugação de tudo o que penso sobre Portugal e o Mundo:
-Miami, 2005, a cidade está infestada de riqueza e numa esquina prega um homem com um cartaz às costas dizendo: A América é uma capitalista pecadora e cheia de luxúria! Neste momento passa um belo Hummer quando o Santo grita "Hey, Sinner!" De dentro daqueles vidros fumados apenas saí uma mão com um dedo no ar. A cidade permanece ao seu ritmo, o maluco ainda grita, mas ninguém lhe dará alguma vez ouvidos. Ele prossegue mais uma vez sozinho na sua razão.
Quatro anos passaram e este fim-de-semana voltei a ver "esse mesmo homem": desta vez estava no metro pregando a lenga-lenga de sempre, quando por ele passavam Árabes e as suas pulseiras de diamante, caminhando em harmonia com Judeus e as suas tranças, aliados a Indianos ou Russos com os seus Blackberrys. Também havia “sinners!” mas obviamente a cena repetiu-se: Londres permaneceu ao seu ritmo, o maluco ainda gritou, mas ninguém alguma vez lhe deu ouvidos.
Mas porque somos assim? Porque o "esse mesmo homem" emigrou para Portugal e hoje domina 12% do nosso eleitorado.